domingo, 26 de abril de 2015

"Piquenique no Front", na visão de Ravi Arrabal.

O agitador cultural cabrofriense, Ravi Arrabal, fala de sua experiência ao assistir "Piquenique no Front", além de ótimas dicas, Ravi reconhece o empenho do grupo mais novo da cidade de Cabo Frio. É com prazer e muita alegria que mostramos para nosso público, a visão coerente e o reconhecimento pela nossa pesquisa, estudo e investigação da obra do dramaturgo espanhol, Fernando Arrabal.

"Piquenique no Front" - Décima Oitava aprensentação. O teatro de rua,
retornando a Cabo Frio, com grande vigor.
Assisti a 18ª apresentação do “Picnic no Front” e o que resumo agora, a partir do que relato a seguir, é que assisti um trabalho maduro, adulto, pós-puberdade! Mando a vocês via “inbox” para que vejam o que eu vi, reflitam e debatam o que lhes convir, caso tenha. Sentei na praça num dia meio barro, meio tijolo, um nublado quase chuva. E de longe vi e ouvi um coro de vozes castellanas/espanholas, em cantigas. Um passinho devagar, conquistando a praça e, por ora, até timido... E, sem pestanejar, deram início à função. Já aí me conquistaram. A praça, meio vazia, foi enchendo de público ao passo que a história seguia, o que me demonstra, cada vez mais, que é a perseverança e a vontade de fazer acontecer que torna tudo possível. Nossa arte merece quem luta bravamente por ela, e assim, quem age desta forma merece estar nesse universo fantástico do teatro. Como já conhecia a história, me debrucei em observar mais a dimensão da construção narrativa pela direção e da interpretação dos atores. E o que vi foi um trabalho vigoroso, com um ritmo envolvente! Admirei o domínio do espaço cênico e o vigor da Beatriz Ebecken e do Celso Guimarães, compadeci da fragilidade e sutileza do Danilo e da Nathally, me diverti com a histrionia do Gustavo Vieria, Saraha  Fortes e da Kéren-Hapuk (que também demonstrou muita precisão e cuidado quando na quebra do ritmo cênico para a execução do “Besame Mucho” – que, aliás, é um ponto que me leva a uma reflexão sobre a construção da narrativa). O ritmo acelerado e o notável vigor físico do elenco é um dos pontos altos do espetáculo, que mantém a atenção da plateia sem deixar de contar - muito bem - a história. É exatamente por isso que o momento da quebra do ritmo leva o espectador à um estado de suspensão, que é sublime. Até por isso entendo que o espetáculo pode apostar mais nestas tensões e distensões, até para expor mais a dramaticidade do texto e aproximar mais a plateia das dimensões psicológicas dos personagens, que estão bem construídos pelos atores.
Ás vezes quando o vento para, nos faz mais cientes da sua existência que quando forte e intenso. O único senão, no meu entendimento, é em relação ao visagismo (cenário /figurino /maquiagem). Acredito que falta apenas um pequeno acabamento nestes setores, para que toda a estética encontre uma unidade. Vejo no personagem da Beatriz Ebecken, um caminho muito bom em relação à estética e, principalmente, no soldado da Nathally, que usa muito bem algumas sobreposições simples para expor o universo simbólico do personagem. Acho que apostar mesmo nestes elementos reutilizados, fora da sua utilidade prática (como o escorredor de macarrão), podem resolver a falta de unidade de alguns itens. Sugiro apostar mesmo na sobreposições de tecidos com textura, para que todos os personagens utilizem da mesma paleta de cores e tipo de materiais parecidos, para que o figurino seja um elemento “exclusivo” do espetáculo. O surgimento de um novo grupo de teatro na cidade é recebido por mim com muita excitação e felicidade. Espero que estas poucas palavras tortas possam ajudá-los a seguir em frente neste ofício tão belo e difícil como o nosso. Teatro é sacerdócio, militância, resistência e , principalmente, criação. Vida longa ao TCC! Evoé!


(Ravi Arrabal)

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