O agitador cultural cabrofriense, Ravi Arrabal, fala de sua experiência ao assistir "Piquenique no Front", além de ótimas dicas, Ravi reconhece o empenho do grupo mais novo da cidade de Cabo Frio. É com prazer e muita alegria que mostramos para nosso público, a visão coerente e o reconhecimento pela nossa pesquisa, estudo e investigação da obra do dramaturgo espanhol, Fernando Arrabal.
"Piquenique no Front" - Décima Oitava aprensentação. O teatro de rua, retornando a Cabo Frio, com grande vigor. |
Assisti a 18ª
apresentação do “Picnic no Front” e o que resumo agora, a partir do que relato
a seguir, é que assisti um trabalho maduro, adulto, pós-puberdade! Mando a
vocês via “inbox” para que vejam o que eu vi, reflitam e debatam o que lhes
convir, caso tenha. Sentei na praça num dia meio barro, meio tijolo, um nublado
quase chuva. E de longe vi e ouvi um coro de vozes castellanas/espanholas, em
cantigas. Um passinho devagar, conquistando a praça e, por ora, até timido...
E, sem pestanejar, deram início à função. Já aí me conquistaram. A praça, meio
vazia, foi enchendo de público ao passo que a história seguia, o que me
demonstra, cada vez mais, que é a perseverança e a vontade de fazer acontecer
que torna tudo possível. Nossa arte merece quem luta bravamente por ela, e
assim, quem age desta forma merece estar nesse universo fantástico do teatro.
Como já conhecia a história, me debrucei em observar mais a dimensão da
construção narrativa pela direção e da interpretação dos atores. E o que vi foi
um trabalho vigoroso, com um ritmo envolvente! Admirei o domínio do espaço
cênico e o vigor da Beatriz Ebecken e do Celso Guimarães, compadeci da
fragilidade e sutileza do Danilo e da Nathally, me diverti com a histrionia do
Gustavo Vieria, Saraha Fortes e da
Kéren-Hapuk (que também demonstrou muita precisão e cuidado quando na quebra do
ritmo cênico para a execução do “Besame Mucho” – que, aliás, é um ponto que me
leva a uma reflexão sobre a construção da narrativa). O ritmo acelerado e o
notável vigor físico do elenco é um dos pontos altos do espetáculo, que mantém
a atenção da plateia sem deixar de contar - muito bem - a história. É
exatamente por isso que o momento da quebra do ritmo leva o espectador à um
estado de suspensão, que é sublime. Até por isso entendo que o espetáculo pode
apostar mais nestas tensões e distensões, até para expor mais a dramaticidade
do texto e aproximar mais a plateia das dimensões psicológicas dos personagens,
que estão bem construídos pelos atores.
Ás vezes quando o
vento para, nos faz mais cientes da sua existência que quando forte e intenso.
O único senão, no meu entendimento, é em relação ao visagismo (cenário
/figurino /maquiagem). Acredito que falta apenas um pequeno acabamento nestes
setores, para que toda a estética encontre uma unidade. Vejo no personagem da
Beatriz Ebecken, um caminho muito bom em relação à estética e, principalmente,
no soldado da Nathally, que usa muito bem algumas sobreposições simples para
expor o universo simbólico do personagem. Acho que apostar mesmo nestes
elementos reutilizados, fora da sua utilidade prática (como o escorredor de
macarrão), podem resolver a falta de unidade de alguns itens. Sugiro apostar
mesmo na sobreposições de tecidos com textura, para que todos os personagens
utilizem da mesma paleta de cores e tipo de materiais parecidos, para que o
figurino seja um elemento “exclusivo” do espetáculo. O surgimento de um novo
grupo de teatro na cidade é recebido por mim com muita excitação e felicidade.
Espero que estas poucas palavras tortas possam ajudá-los a seguir em frente
neste ofício tão belo e difícil como o nosso. Teatro é sacerdócio, militância,
resistência e , principalmente, criação. Vida longa ao TCC! Evoé!
(Ravi Arrabal)
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