terça-feira, 9 de setembro de 2014

TCC início de um voo artístico.

Somos o TCC, Teatro Cabofriense de Comédia, um grupo teatral em andamento e formação, criado em 2014. Uma família que está surgindo aos poucos, com carinho e muita cumplicidade. Esperamos que nossos sonhos e expectativas se concretizem cada vez mais, estamos na luta, com garra e muita disposição.
Estamos montando o esquete DITADURA, texto de Nathally Amariá, e direção de  Nathally Amariá, Lauren Christie e Kéren-Hapuk, com as atrizes Nathally Amariá e Kéren-Hapuk.
Ditadura é um trabalho que tem objetivo de impactar e levar o público para uma reflexão.
A história se passa após a Segunda Guerra Mundial e mostra a vida triste e melancólica de uma família que perdeu o patriarca durante a guerra e como elas vivem após vários acontecimentos traumatizantes. A autora do texto fez uma ponte ligando o passado com o  presente, mostrando que ainda somos presos e oprimidos por um mundo onde ainda há guerras por derivados motivos, um mundo onde as pessoas buscam a liberdade, mas ainda estão presos por um cordão umbilical a algo ou alguém.

A direção está seguindo a linha de uma encenação densa e limpa, trabalhando o teatro físico e contemporâneo com o objetivo de contar uma história sem muitos elementos concretos em cima do palco.




NOSSA PRIMEIRA MONTAGEM!


Jiddu Saldanha, Anna Alves, Nathally Amariá, Lauren Christie, Gabriel Rodrigues,
Keren-Hapuk e Maria Eduarda, estiveram envolvidos diretamente na
primeira montagem do TCC.

FICHA TÉCNICA
Texto:  Ditadura
Autor:  Nathally Amariá
Duração: 12 minutos
Direção: Keren-Hapuk, Nathally Amariá e Lauren Christie
ELENCO:
Keren-Hapuk: Odete
Nthally Amariá: Geralda
PREPARAÇÃO CORPORAL
Jiddu Saldanha
FIGURINOS
Gabriel Rodrigues
CONTRA REGRAGEM
Anna Alves
Maria Eduarda
OPERAÇÃO TÉCNICA
Jiddu Saldanha
DESIGN GRÁFICO
Gustavo Vieira


Nathally Amariá e Kéren-Hapuk, processo de ensaio da peça "Ditadura"!

TEXTO
Ditadura
(Autora: Nathally Amariá)
Gênero: Drama
Personagens:
Odete: Uma mulher de uns 40 anos, louca.
Geralda: Uma jovem, filha de Odete, em ultimo grau de depressão.
Figurino:
Odete: Um vestido no estilo Moda Eduardina (1900 · 1910)
Geralda: Roupa de dormir (Estilo Moda Eduardina 1900 · 1910)
Cenário:
A sala da casa: Uma cadeira estilo provençal
Objetos de Cena: Uma cesta com novelos de tricô vermelho e 2 agulhas de tricô.
Sinopese: Odete é uma mulher louca e traumatizada pelo fato de sua única filha ter nascido prematura, fazendo ela acreditar que a filha não ama desde o ventre. Geralda é sua filha, e passou sua vida inteira trancada dentro de casa e antes que ela pense em fugir sua mãe a mata e se mata em seguida.


Ato 1 – Cena única:

Geralda  entra no palco (pela coxia), cantando uma música no ritmo da música:

Geralda: Cordões umbilicais, cordões umbilicais, cordões umbilicais...
Odete sai da porta de entrada do teatro, com um manto de tricô vermelho em mãos, e ainda o tricotando. Ela fica parada e começa a cantar junto com Geralda, formando algo crescente e fomentando um suspense.
Geralda e Odete: 
Cordões umbilicais, cordões umbilicais, cordões umbilicais...
Geralda, que já está parada no meio do proscênio, se curva com seu corpo em plano médio com o tórax, braços e mãos viradas para frente (como se estivesse tentando buscar algo). Odete começa a andar em direção ao palco, tricotando,  e a trilha que a conduz são barulhos de bombas explodindo e aviões (um áudio de alguma guerra).
Odete sobe no palco e se posiciona do lado direito de Geralda, sentada em sua cadeira. 

Odete com a voz grave, e a cara dura, lamenta e resmunga: Estava chovendo, era 17h da tarde, eu (tricotando lentamente e sem reação): Geralda, estupida, insolente. Quando nasceste pude sentir o vento frio nas minhas espinhas, como um  tiro de soldado desalmado. Fui inundada de tristeza e melancolia. Lembro-me de sofrer em demasia, você querendo ser maior, como sempre, querendo sair de dentro de mim, você se expulsou do meu ventre, senti como se estivesse parindo a bomba de Yroshima.
tomava meu chá de camomila, e você me chutou, chutou meu útero, chutou minha alma. Às 17:30h, eu estava te parindo à força.
Odete levanta vai até Geralda, tenta encostá-la, mas recua, vira de costas e diz estericamente:  Eu sou sua mãe, sua mamãezinha, foi eu quem suportei seu choro nas madrugadas, foi eu quem sofreu com a perda do meu amado, foi eu que persisti em ficar aqui, por sua causa, sua ingrata, infeliz, perversa... Eu te trouxe dentro de mim durante seis meses, sim seis meses, porque você quis sair de dentro de mim antes da hora. Eu devia ter deixado você morrer.
Volta a cadeira e continua tricotando de forma mais rápida e ofegante.
Com a voz grave, e a cara dura, lamenta e resmunga: Estava chovendo, era 17h da tarde, eu tomava meu chá de camomila, e você me chutou, chutou meu útero, chutou minha alma. Às 17:30h, eu estava te parindo à força. Enquanto isso, bombas caiam ao nosso redor, aviões atacavam pessoas inocentes, mães perdiam seus filhos, e eu te pari. Enquanto isso, seu pai estava sendo preso em um desses campos de batalhas e estava tendo sua alma violentada.  (Tricotando mais rápido) Agora você está aí, olhando para o futuro, presa dentro de si, garota estupida, não fala, não reage, não sente, só ataca com esse seu silencio infernal. A vida não foi feita para pessoas como você, abaixe essa mão, você não vai fazer isso, eu não vou deixar.
Odete levanta e cobre Geralda com o manto.  
Odete raivosa: Maldita, pare com isso, seus pensamentos invadem meu ser, sua energia faz eu querer desistir, mas não Geralda, eu não posso. Pare com isso, pare com isso. Tudo que fiz foi por amor. Nós perdemos tudo, e ainda há bombas, ainda há barulho com cor de sangue, ainda há. (Devaneando) O que? Você está me chamando de louca? Como ousas? Ham? Não estamos mais em guerra? (Odete cantarola uma música em forma de lalala, ri e dança pelo palco) Da rotunda ela grita e vem andando para perto de Geralda: É mentira, eu ouço, eu sinto a repressão. Isso sempre vai existir, mesmo quando os humanos voarem, mesmo quando os humanos desenvolverem mais uma bugiganga imbecil, mesmo quando disserem que tudo foi consumado, a guerra sempre vai existir, sempre veremos sangue espalhados por aí, sempre veremos, porque enquanto a humanidade existir haverá ditadura, repressão, bombas e guerras (olhando para a plateia) porque vocês querem ser melhores que os outros passando por cima até de deus.
Odete se senta embaixo de Geralda e vai puxando a linha de tricô, desfazendo o que tinha feito.
Odete: Estava chovendo, era 17h da tarde, eu tomava meu chá de camomila, e você me chutou, chutou meu útero, chutou minha alma. Às 17:30h, eu estava te parindo à força.  Eu lamento por isso minha filha, essa ditadura nos fez assim, duras, inertes, frias e mortas, eu não posso ver você partir, eu não vou permitir. Seu cordão umbilical ainda está ligado a mim, e agora desfaço nosso último laço com esse mundo ignóbil, promiscuo e cheio de dor.
Odete vai desfalecendo, e sentada no chão, leva seu tronco e seus braços pra frente, ficando praticamente na mesma posição que Geralda.
As duas espasmam o corpo visceralmente e gritam:
Arranquem seus cordões umbilicais, Arranquem seus cordões umbilicais, Arranquem seus cordões umbilicais... Sujos, imundos, vis, Arranquem seus cordões umbilicais!
E voltam a posição anterior, estáticas, com os olhos arregalados para a plateia.

Pano.
(Nathally Amariá)