Somos o TCC, Teatro
Cabofriense de Comédia, um grupo teatral em andamento e formação, criado em
2014. Uma família que está surgindo aos poucos, com carinho e muita cumplicidade. Esperamos que nossos sonhos e expectativas se concretizem cada vez mais, estamos na luta, com garra e muita disposição.
Estamos montando o
esquete DITADURA, texto de Nathally Amariá, e direção de Nathally Amariá, Lauren Christie e
Kéren-Hapuk, com as atrizes Nathally Amariá e Kéren-Hapuk.
Ditadura é um trabalho
que tem objetivo de impactar e levar o público para uma reflexão.
A história se passa após
a Segunda Guerra Mundial e mostra a vida triste e melancólica de uma família
que perdeu o patriarca durante a guerra e como elas vivem após vários acontecimentos
traumatizantes. A autora do texto fez uma ponte ligando o passado com o presente, mostrando que ainda somos presos e
oprimidos por um mundo onde ainda há guerras por derivados motivos, um mundo
onde as pessoas buscam a liberdade, mas ainda estão presos por um cordão
umbilical a algo ou alguém.
A direção está seguindo a
linha de uma encenação densa e limpa, trabalhando o teatro físico e
contemporâneo com o objetivo de contar uma história sem muitos elementos
concretos em cima do palco.
NOSSA PRIMEIRA MONTAGEM!
Jiddu Saldanha, Anna Alves, Nathally Amariá, Lauren Christie, Gabriel Rodrigues, Keren-Hapuk e Maria Eduarda, estiveram envolvidos diretamente na primeira montagem do TCC. |
FICHA TÉCNICA
Texto: Ditadura
Autor: Nathally Amariá
Duração: 12 minutos
Direção: Keren-Hapuk, Nathally
Amariá e Lauren Christie
ELENCO:
Keren-Hapuk: Odete
Nthally Amariá: Geralda
PREPARAÇÃO CORPORAL
Jiddu
Saldanha
FIGURINOS
Gabriel Rodrigues
CONTRA REGRAGEM
Anna Alves
Maria
Eduarda
OPERAÇÃO TÉCNICA
Jiddu
Saldanha
DESIGN GRÁFICO
Gustavo
Vieira
Nathally Amariá e Kéren-Hapuk, processo de ensaio da peça "Ditadura"!
TEXTO
Ditadura
(Autora:
Nathally Amariá)
Gênero: Drama
Personagens:
Odete: Uma
mulher de uns 40 anos, louca.
Geralda:
Uma jovem, filha de Odete, em ultimo grau de depressão.
Figurino:
Cenário:
A sala da casa:
Uma cadeira estilo provençal
Objetos de Cena:
Uma cesta com novelos de tricô vermelho e 2 agulhas de tricô.
Sinopese: Odete é
uma mulher louca e traumatizada pelo fato de sua única filha ter nascido
prematura, fazendo ela acreditar que a filha não ama desde o ventre. Geralda é
sua filha, e passou sua vida inteira trancada dentro de casa e antes que ela
pense em fugir sua mãe a mata e se mata em seguida.
Ato 1 – Cena única:
Geralda entra no palco (pela coxia), cantando uma
música no ritmo da música:
Geralda: Cordões umbilicais, cordões umbilicais, cordões umbilicais...
Odete sai da porta de entrada do teatro, com um manto de tricô vermelho
em mãos, e ainda o tricotando. Ela
fica parada e começa a cantar junto com Geralda, formando algo crescente e
fomentando um suspense.
Geralda e Odete: Cordões umbilicais, cordões umbilicais, cordões umbilicais...
Geralda e Odete: Cordões umbilicais, cordões umbilicais, cordões umbilicais...
Geralda, que já está parada no meio do proscênio, se curva com seu
corpo em plano médio com o tórax, braços e mãos viradas para frente (como se
estivesse tentando buscar algo). Odete começa a andar em direção ao palco,
tricotando, e a trilha que a conduz são
barulhos de bombas explodindo e aviões (um áudio de alguma guerra).
Odete sobe no palco e se posiciona do lado direito de Geralda, sentada em sua cadeira.
Odete com a voz grave, e a cara dura, lamenta e resmunga: Estava chovendo, era 17h da tarde, eu (tricotando lentamente e sem reação): Geralda, estupida, insolente. Quando nasceste pude sentir o vento frio nas minhas espinhas, como um tiro de soldado desalmado. Fui inundada de tristeza e melancolia. Lembro-me de sofrer em demasia, você querendo ser maior, como sempre, querendo sair de dentro de mim, você se expulsou do meu ventre, senti como se estivesse parindo a bomba de Yroshima.
tomava meu chá de camomila, e você me chutou, chutou meu útero, chutou minha alma. Às 17:30h, eu estava te parindo à força.
Odete sobe no palco e se posiciona do lado direito de Geralda, sentada em sua cadeira.
Odete com a voz grave, e a cara dura, lamenta e resmunga: Estava chovendo, era 17h da tarde, eu (tricotando lentamente e sem reação): Geralda, estupida, insolente. Quando nasceste pude sentir o vento frio nas minhas espinhas, como um tiro de soldado desalmado. Fui inundada de tristeza e melancolia. Lembro-me de sofrer em demasia, você querendo ser maior, como sempre, querendo sair de dentro de mim, você se expulsou do meu ventre, senti como se estivesse parindo a bomba de Yroshima.
tomava meu chá de camomila, e você me chutou, chutou meu útero, chutou minha alma. Às 17:30h, eu estava te parindo à força.
Odete levanta vai até Geralda, tenta encostá-la, mas recua, vira de
costas e diz estericamente: Eu sou
sua mãe, sua mamãezinha, foi eu quem suportei seu choro nas madrugadas, foi eu
quem sofreu com a perda do meu amado, foi eu que persisti em ficar aqui, por
sua causa, sua ingrata, infeliz, perversa... Eu te trouxe dentro de mim durante
seis meses, sim seis meses, porque você quis sair de dentro de mim antes da
hora. Eu devia ter deixado você morrer.
Volta a cadeira e continua tricotando de forma mais rápida e ofegante.
Com a voz grave, e a cara dura, lamenta e resmunga: Estava
chovendo, era 17h da tarde, eu tomava meu chá de camomila, e você me chutou,
chutou meu útero, chutou minha alma. Às 17:30h, eu estava te parindo à força.
Enquanto isso, bombas caiam ao nosso redor, aviões atacavam pessoas inocentes,
mães perdiam seus filhos, e eu te pari. Enquanto isso, seu pai estava sendo
preso em um desses campos de batalhas e estava tendo sua alma violentada. (Tricotando
mais rápido) Agora você está aí, olhando para o futuro, presa dentro de si,
garota estupida, não fala, não reage, não sente, só ataca com esse seu silencio
infernal. A vida não foi feita para pessoas como você, abaixe essa mão, você
não vai fazer isso, eu não vou deixar.
Odete levanta e cobre Geralda com o manto.
Odete raivosa: Maldita, pare com isso, seus pensamentos invadem meu
ser, sua energia faz eu querer desistir, mas não Geralda, eu não posso. Pare
com isso, pare com isso. Tudo que fiz foi por amor. Nós perdemos tudo, e ainda
há bombas, ainda há barulho com cor de sangue, ainda há. (Devaneando) O que? Você está me chamando de louca? Como ousas?
Ham? Não estamos mais em guerra? (Odete
cantarola uma música em forma de lalala, ri e dança pelo palco) Da rotunda ela
grita e vem andando para perto de Geralda: É mentira,
eu ouço, eu sinto a repressão. Isso sempre vai existir, mesmo quando os humanos
voarem, mesmo quando os humanos desenvolverem mais uma bugiganga imbecil, mesmo
quando disserem que tudo foi consumado, a guerra sempre vai existir, sempre
veremos sangue espalhados por aí, sempre veremos, porque enquanto a humanidade
existir haverá ditadura, repressão, bombas e guerras (olhando para a plateia) porque vocês querem ser melhores
que os outros passando por cima até de deus.
Odete se senta embaixo de Geralda e vai puxando a linha de tricô,
desfazendo o que tinha feito.
Odete: Estava chovendo, era 17h da tarde, eu tomava meu chá de
camomila, e você me chutou, chutou meu útero, chutou minha alma. Às 17:30h, eu
estava te parindo à força. Eu lamento
por isso minha filha, essa ditadura nos fez assim, duras, inertes, frias e
mortas, eu não posso ver você partir, eu não vou permitir. Seu cordão umbilical
ainda está ligado a mim, e agora desfaço nosso último laço com esse mundo
ignóbil, promiscuo e cheio de dor.
Odete vai desfalecendo, e sentada no chão, leva seu tronco e seus
braços pra frente, ficando praticamente na mesma posição que Geralda.
As duas espasmam o corpo visceralmente e gritam:
Arranquem seus cordões
umbilicais, Arranquem seus cordões umbilicais, Arranquem seus cordões
umbilicais... Sujos, imundos, vis, Arranquem seus cordões umbilicais!
E voltam a posição anterior, estáticas, com os olhos arregalados para a
plateia.
Pano.
(Nathally Amariá)